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O melhor dos mundos

por João Távora, em 08.11.13

Quando pelo final dos anos setenta a qualidade da gravação e de fabrico de discos atingiu o seu auge, um dos maiores desafios dos fabricantes de gira-discos high end era a erradicação de qualquer interferência na leitura do disco, por exemplo com com cabeças de bobine móvel extremamente sensíveis, do atrito provocado pelos elementos mecânicos da máquina.

É nesse sentido que a tão celebrada invenção do CD surge ironicamente aos ouvidos exigentes como a solução que reúne o pior dos dois mundos, seja digital ou analógico: deste último herda a o inevitável atrito da rotação do disco; do digital recebe a sua sempre limitada capacidade de abarcar o infindável espectro de frequências sonoras, desmontadas "em zeros e uns", que resulta em informação deficitária. O busílis encontra solução quase perfeita por estes dias na completa desmaterialização do registo sonoro, através de soluções em (muito) alta resolução (por exemplo em formato FLAC ou ALAC - Apple Lossless Audio Codec) por streaming ou armazenados em suportes electrónicos livres de elementos mecânicos como os ipods ou até um simples cartão de memória, claro, reproduzidos por um competente e maciço sistema de hi-fi. Essa é uma revolução difícil de integrar por quem como eu tanto gosta de “manusear” as suas obras musicais predilectas, apreciar a beleza gráfica da sua capa e folhear a informação complementar enquanto vinte minutos de sólido e degradável som total se vão desenrolando a 33.3 rotações no velho gira-discos para ecoarem com naturalidade numas inevitavelmente pesadas e grandes colunas.

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publicado às 17:32


5 comentários

De FGCosta a 09.11.2013 às 09:21

Não percebi muito bem (ou nada) os dois argumentos que invoca para o CD reunir o piros dos dois mundos:
Que atrito é que é transmitido pelo CD? O raio laser a incidir sobre o disco causa algum atrito????
As soluçãões de "muito alta resolução" são na mesma digitais e portanto também, segundo a sua argumentação, com a "sempre limitada capacidade de abarcar o infindável espectro de frequências sonoras, desmontadas "em zeros e uns", que resulta em informação deficitária".
Pessoalmente parece-me que a sua argumentação se trata apenas de uma legitima e afetiva posição conservadora. Tudo bem. Eu, por exemplo, prefiro os relógio mecânicos aos digitais, mas sei que os digitais são muito melhores para dar horas corretamente e ter outras funções impossiveis de encontrar nos relógios mecânicos. Mas reconheço que é uma preferencia afetiva e não racional. Agora se quisermos falar de coisas objetivas, convém não argumentar com razões desprovidas de fundamento científico

De João Távora a 09.11.2013 às 15:33

Caro FGC: Os leitores de CD mais desenvolvidos, assim como os gira-discos, cujo preço atinge dezenas de milhares de euros, são construídos de modo a anular a interferência (vibrações) dos mecanismos, nomeadamente o mais significativo, o da rotação - um problema que deixa de existir na leitura dos programas de compressão de audio "sem (?) perda de informação".
Claro que acima de tudo está a questão afectiva, subjectiva que eu assumo no final do texto.
Cordeais cumprimentos

De rmg a 12.11.2013 às 13:09


A questão , não deixando de ser sentimental , é também até mais financeira que técnica pois não podemos dissociar uma coisa da outra quando se conversa sobre o tema .

Tendo em conta os preços que um muito bom gira-discos ou um muito bom leitor de CD podem alcançar é evidente que só está ao alcance de uma minoria muito minoria ter o melhor de dois mundos (como em tudo na vida) .
Estou convencido que muita gente não faz ideia desses preços , pela cara que os meus conhecidos fazem quando lhos digo .

Mas quando se fala sobre o assunto é para um largo espectro de pessoas , com equipamentos melhores ou piores, não faz qualquer sentido fazê-lo para 2 ou 3 mais conhecedores ou mais abonados .
Daí a importância de blogs como este , que chegam a todos.

Tenho um excelente leitor de CD e ouço muito bem (a família diz que bem demais !) e é claro que se baixar o volume de som até zero ouço distintamente a rotação do disco .

Por questões de comodidade uso habitualmente o CD mas não me desfaço das centenas de discos em vinil e tenho um gira-discos que em 1975 me custou muitos sacrifícios e que (bem mantido) ainda hoje não se engana nem naquele 1/3 de rotação que a gente sabe .

PS 1 - Excelente blog que só agora descobri via "Delito de Opinião".

PS 2 - Insulto com alguma frequência os que me recriminam por dizer gira-discos e não "prato" ...

De João Távora a 12.11.2013 às 16:11

Agradeço as suas simpáticas palavras rmg. Quanto à questão financeira que refere, se ela é verdadeira, por outro lado não é "absoluta." Eu nunca fui rico, e desde jovem que venho "construindo" o som (ainda precário) que desfruto hoje. Aliás, por estes dias existe muito bom material em 2ª mão (com 10, ou até 20 anos) que mantém performances insólitas, deste modo acessível a bolsas medianas.

De rmg a 12.11.2013 às 17:05


Obrigado pela sua resposta .

Eu estou de acordo consigo , pelos vistos expliquei-me foi muitíssimo mal .
O que eu pretendia dizer era que muita gente encara estas coisas numa perspectiva de "perfeição técnica" quando é evidente que essa só se consegue atingir com elevados custos ao alcance de poucos (que tendo uma bolsa suficiente , não terão necessáriamente uns ouvidos e um salão adequados) .

Ora isto do som em casa é simples , com verbas relativamente modestas consegue-se o som que nos agrada - que é o único que interessa .
Errando e experimentando um belo dia consegue-se "o nosso som" e a partir daí ficar o mais quieto possível para não estragar tudo .

De resto , se é verdade que em 1975 só consegui aquilo com muitos sacrifícios é também um facto que , felizmente , hoje estou bem longe desses apertos mas não me passa pela cabeça gastar dinheiro inútilmente se vivo feliz com o que tenho .

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A montante deste caprichoso prazer de coleccionar os sons antigos e de saborear sofisticados sistemas de reprodução sonora está uma enorme paixão. Neste blog que afinal é uma contradição de termos – uma plataforma de partilha digital em defesa do suporte analógico - presto tributo a essa que considero a mais divinal forma de expressão humana: a música.


O Autor

João Lancastre e Távora nasceu em Lisboa, que adora. Exilado no Estoril, alienado com política e com os media, é sportinguista de sofrer, monárquico, católico e conservador. No resto é um vencedor: casado, pai de filhos e enteados, é empresário na área da Comunicação e do Marketing. Participando em diversos projectos de intervenção cívica, é dirigente associativo e colabora em vários blogues e projectos comunicação política e cultural.

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