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Dos primórdios do gramofone e da colecção de um tal “MusicBoxBoy”, aqui partilho um tão raro quanto curioso Columbia Modelo AJ Graphophone de 1901 de manivela vertical a tocar um Zonophone de 7 polegadas do final do século XIX "An Election District Parade In New York City" by the National Guard Drum And Fife Corps.
Bom ano de 2014 para todos os meus amigos.
Aqui deixo um Ragtime com pedalada gravado em 1906, pela banda do Lusodescendente mais famoso de sempre nos EUA, John Philip de Sousa, celebrizado em todo o mundo principalmente através das suas famosas marchas, muitas delas que todos conhecemos desde sempre.
Designa-se como "Coon Songs" um género musical cómico popularizado nos Estados Unidos da América nas últimas décadas do século XIX e caído em desuso no princípio do século XX, quando o seu pendor racista começou a ser malvisto. Extraídos dos espectáculos de Music Hall eram temas interpretados por artistas brancos pintados de preto, imitando o dialecto dos negros em que se explorava os seus estereótipos (ignorância, indolência ou até desonestidade), em caricaturas por vezes cruéis um pouco como as que são utilizadas nas anedotas de alentejanos em Portugal, sobre os portugueses no Brasil ou sobre os irlandeses na Inglaterra. As "Coon Songs" tinham o objectivo de ser engraçadas e quase sempre usavam os ritmos sincopados do ragtime, género originário das comunidades musicais Afro-Americanas que antecede o Jazz.
"Bake dat chicken pie" que partilho aqui em baixo é uma canção de Arthur Collins & Byron Harlan um dueto cómico popularizado entre 1903 e 1926 através dos palcos e da indústria fonográfica que emergia à época sob o formato de cilindros para fonógrafos e discos para gramofones. Para além de muitos standards de ragtime, o duo Collins & Harlan celebrizou-se com a interpretação deste género musical e são reconhecidamente dos grandes iniciadores daquilo a que hoje chamamos "música pop", difundida em curtas gravações de dois ou três minutos de êxitos consensuais.
Muitos destes temas foram recuperados dos antigos suportes e digitalizados no Youtube, onde a ressalva “for historical purposes only” é um curioso sinal dos tempos.
Álbum para discos de 10 polegadas de goma-laca (78 rpm). Com capacidade para arquivar 10 discos que correspondem a 20 músicas com uma média de 3 minutos cada. Ao todo cerca de 3 kg música.
No lado b desta curiosíssima produção norte americana de Antony Sears “Modinhas de Portugal” da segunda década do século XX, encontramos mais uma interpretação de Arthur Silva, desta vez da “Canção do Ribeirinho”, que mais tarde fez parte do reportório do cantor Artur Garcia e cuja autoria ainda não desvendei. Aceitam-se contribuições.
Esta é uma inédita interpretação gravada em 1915 por Arthur Silva do fado "A Samaritana" de Álvaro Cabral (1865 - 1918). O achado necessita ainda de alguma pesquisa mas desconfio que constitua uma preciosidade para o acervo fonográfico nacional.
Por aqui andam diabinhos à solta
Com corninhos e rabinhos e falinhas de paraíso
Por aqui andam bruxinhas em volta
Esvoaçando cavalgando em vassourinhas sem juízo*
Temos que entender a força inovadora da Banda do Casaco no contexto duma época em que qualquer modo de expressão artística que não contivesse uma mensagem política (de esquerda, claro) estava votada à quase clandestinidade, à mais completa irrelevância artística. Ora é por ocasião da (tardia) reedição da sua discografia que esta mítica banda de música inclassificável (miscelânea de pop, jazz, experimental, étnica) fundada por António Pinho e Nuno Rodrigues, nas últimas semanas emerge da invisibilidade e vem granjeando um mais que merecido reconhecimento por tudo o que é jornal e revista mainstream nacional. Foi neste surpreendente projecto musical que se lançaram as sensuais vozes de Né Ladeiras e Gabriela Schaff, onde pontificaram músicos de excepção como António Emiliano, Carlos Zíngaro, Celso Carvalho, ou até Jerry Marotta, baterista da banda de Peter Gabriel no final dos anos 70. O certo é que quem tenha nascido em Portugal nos últimos trinta anos até há uns meses simplesmente não daria conta da existência da Banda do Casaco cuja obra parecia enterrada num completo esquecimento.
Pela minha parte estou convencido de que, assim como a grande revolução libertadora do jornalismo em Portugal despontou nos anos oitenta com o semanário "O Independente", o mesmo fenómeno que se deu na música popular na mesma década, em grande parte se deve à Banda do Casaco, cujo reportório bem merece ser conhecido e aproveitado pelas novas gerações.
* País Porugal (António Pinho)
Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos - 1977
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