Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Os meus mais de cinquenta anos, muito brio e algum suor permitiram-me gradualmente juntar, além de um sistema estereofónico bastante competente, umas valentes centenas de discos, compactos e vinis, numa criteriosa colecção erigida com gozo e empenho de que me orgulho. É curioso como, através de meios informáticos, tenho-os quase todos convertidos em mp4 ocupando cerca de cinquenta gigabits numa pequena geringonça japonesa, a qual, de modo aleatório, por autor, por faixa, por género ou por álbum, consegue reproduzir integral e interruptamente por mais de uma semana. Chama-se a isto “desmaterialização”, é bom para a “portabilidade” (dá para ouvir no carro) e serve de cópia de segurança (não sei bem de quê).
Mas o que ultimamente me seduz, mais do que o som analógico ou a amplificação a válvulas, é a gravação mecânica, que funciona sempre, seja na praia, no campo ou no deserto, sem pilhas nem corrente eléctrica, sem software nem hardware, só com umas voltas à manivela e uma variedade de valsas, marchas e cantorias literalmente do outro mundo. Reconheço que a amplitude das frequências sonoras resulta bastante limitada, mas até isso tem o seu fascínio, quando ganhamos uma perspectiva mais ampla da efémera música popular, devolvendo à vida a uma gravação com cem anos, por exemplo de Arthur Collins, um popular barítono americano do princípio do século XX, o "rei do Ragtime". Ou nos deliciamos a escutar Fred Astaire, a cantarolar "Maybe I Love You Too Much" de Irvin Berlin em 1931, antes de se celebrizar como actor e dançarino. E afinal de contas, não é deplorável a qualidade sonora debitada pelos modernos computadores portáteis, com que tanta gente se deleita a explorar músicas no Youtube?
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.